História da Igreja

Atanásio, Santo (279-373)

 

Denominado a “coluna da Igreja” e o “marte­lo dos arianos”, nasceu em Alexandria, onde re­cebeu uma formação clássica e teológica. Há in­dícios de que na primeira juventude teve conta­tos com os monges de Tebaida. Em 319 foi orde­nado diácono pelo bispo Alexandre, a quem mais tarde serviu como secretário. Foi como secretá­rio que acompanhou o bispo ao Concílio de Nicéia (325), no qual se sobressaiu por sua discussão e dialética com os arianos. Três anos mais tarde (328), foi nomeado bispo de Alexandria.

A partir de então, a vida de Atanásio como bispo caracterizou-se pela luta contra os erros dos arianos, a defesa da verdade sancionada em Nicéia, oralmente e por escrito, e por seu indo­mável zelo e constância diante da adversidade. A Igreja do Oriente denominou-o “padre da orto­doxia” e a Igreja Romana considera-o entre os quatro grandes padres do Oriente. Atanásio, o Grande, foi o alvo da cólera dos arianos até o res-to de seus dias. Tentaram reduzi-lo ao silêncio, procurando o favor do poder civil e corrompendo a autoridade eclesiástica. Por cinco vezes, foi ex­pulso de sua sede episcopal e passou mais de 17 anos no exílio. Mas nada conseguiu quebrar sua resistência, pois estava convencido de que lutava pela verdade. Foi reabilitado na sede de Alexandria no dia 1º de fevereiro de 366. Viveu em paz o resto de seus dias e morreu no dia 2 de maio de 373.

É surpreendente a atividade literária de Santo Atanásio, apesar de uma vida tão agitada. Certa­mente a maior parte de suas obras está estreita­mente relacionada com sua luta em defesa da fé nicena. “Submete a exame crítico uma e outra vez a argumentação dialética e exegética de seus ad­versários, e refuta as acusações que alguns de seus inimigos sem escrúpulos lançavam contra ele.” “Em todos os seus escritos, diz Fócio, o estilo é claro, livre de redundâncias e simples, porém sé­rio e profundo, e seus argumentos são extrema­mente eficazes.”

Sua extensa obra pode classificar-se em:

1) Escritos apologéticos e dogmáticos. Figu­ram aqui, fundamentalmente, três obras: o Trata­do contra os pagãos, o Tratado sobre a encarnação do Verbo e os Discursos contra os arianos. Estes últimos, esctitos entre 338-339, constituem a obra dogmática mais importante de Atanásio. Faz um resumo da doutrina ariana tal qual foi exposta por Ario na Thalia (*Ario) e de­fende a definição do Concílio de Nicéia de que o Filho é eterno, incriado — agénetos — e imutá­vel, e de que existe unidade de essência entre o Pai e o Filho. Entre as obras dogmáticas espúrias atribuídas a Atanásio está o chamado Símbolo atanasiano, denominado também Symbolum Quicumque. Sua atribuição a Atanásio não é an­terior ao séc. VII. Alcançou fama mundial e a partir do século IX foi utilizado no ofício ordiná­rio dos domingos. É uma exposição clara da Trin­dade e das duas naturezas na única pessoa de Cris­to. Provavelmente é de origem galicana e data do séc. V.

2) Escritos histórico-polêmicos, dos quais Ata­násio se valeu para defender-se de seus inimigos. Nesta seção encontramos a Apologia contra os arianos, de fundamental importância para a his­tória da controvérsia ariana; Apologia ao im­perador Constâncio, obra em que colocou seu maior cuidado, escrita numa linguagem valente e digna, perfeitamente acabada e na qual brilha a arte; Apologia pela fuga, que justifica sua fuga da Igreja, e que se tornou um dos escritos mais famosos de Atanásio; A história dos arianos ata­ca o imperador Constâncio como um inimigo

de Cristo, patrocinador da heresia e precursor do Anticristo.

3) Escritos exegéticos e ascéticos. Entre os primeiros estão os comentários sobre os Salmos,

o Gênesis, o Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos. Entre os segundos está a Vida de Santo Antão, o documento mais importante do monaquismo pri­mitivo, escrito a partir da morte de Santo Antô­nio (356). Dedicou-o aos monges, a pedido des­tes que queriam saber “como Antônio praticou o ascetismo, como viveu anteriormente, como foi sua morte, e se era verdade tudo quanto dele se dizia”. Escreveu a Vida de Santo Antão com o objetivo de apresentar um modelo de vida consa­grada ao serviço de Deus. “É uma regra de vida monástica em forma de narração” (São *Gregório Nazianzeno). Com a Vida de Santo Antão criou um novo tipo de biografia, que serviu de modelo para toda a hagiografia grega e latina posterior.

4) Cartas. Somente sobreviveu uma pequena parte. Muitas delas são decretos e tratados, mais do que cartas pessoais e privadas. Elas nos che­gam nos mesentérios da controvérsia ariana. Em primeiro lugar estão as chamadas Cartas festivas, cartas nas quais os bispos de Alexandria anuncia­vam todos os anos, às sedes sufragâneas, o início da quaresma e a festa da páscoa. São 17 as cartas festais, que começam a partir do ano 329. A mais famosa é a que corresponde ao ano 367. Nela con-dena-se a tentativa dos hereges de introduzir obras apócrifas como Escritura divinamente inspirada, e enumeram-se os livros do Antigo e do Novo Testamento incluídos no cânon, transmitidos e aceitos pela Igreja.

Há outras cartas importantes: três cartas sinodais, carta aos bispos africanos, duas cartas­encíclicas, cartas dogmático-polêmicas, carta aos monges, cartas ascéticas etc.

Todos os esforços de Atanásio tendem a esta­belecer, “desde as origens, a autêntica tradição, doutrina e fé da Igreja Católica que o Senhor dei­xou, os apóstolos pregaram e os padres conser­varam”. Seu maior mérito consiste em ter defen­dido o cristianismo tradicional do perigo da helenização, oculto na heresia de Ario e de seus seguidores. Seus pontos de insistência são: a) A doutrina sobre a Trindade, “que é Deus no Pai, no Filho e no Espírito Santo, que não têm associ­ado nenhum elemento estranho ou externo”. b) O logos e a redenção: “Ele se fez homem para que pudéssemos tornar-nos Deus, e manifestou-se através de um corpo para que tivéssemos uma idéia do Pai invisível”. c) Cristo: “Assim como é

o Verbo de Deus, o Verbo se fez carne. E enquan­to no princípio era o Verbo, na plenitude dos tem­pos a Virgem Maria concebeu-o em seu seio e o Senhor se fez homem”. “Sendo realmente Filho de Deus, fez-se também Filho do homem, e sen­do Filho Unigênito de Deus, fez-se também primogênito entre muitos irmãos”. d) O Espírito Santo é Deus, que procede do Pai. Em nenhuma parte afirma explicitamente que o Espírito Santo proceda do Filho. É, no entanto, um corolário de sua doutrina.

BIBLIOGRAFIA: J. Quasten, Patrología, II, 22-83; Obras: PG 25-28. 

 

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