História da Igreja

Bernanos, Georges (1888-1948)

Católico inconformista, inspirado em Léon Bloy, Bernanos é considerado um dos grandes escritores e novelistas católicos franceses. Como Bloy, vê o mundo sobrenatural muito presente entre os homens. Seu humor e sua humanidade levam-no como que por instinto a repudiar o ma­terialismo e o compromisso de seus contemporâ­neos com o mal. Contra esses dois demônios di­rigirá toda a artilharia de sua obra literária duran­te toda a sua vida, sem deixar de aflorar o tema político, presente, também, sobretudo em seus últimos escritos.

“Bernanos — afirma Ch. Moeller — é um es­critor profeta. Com seu olhar profundo, de uma penetração fulgurante, ele nos transporta ao eter­no. Obriga-nos a ver o verdadeiro risco de nossa vida: “se as nossas felicidades são com freqüên­cia terrestres, nossas desgraças são sempre sobre­naturais”. Em meio a uma mensagem que ficará entre as mais trágicas deste século, uma formidá­vel força de alegria irrompe. A chave da obra bernanosiana é o mistério pascal, morte e vida.”

Desde sua primeira novela, Sol de Satã, (trad. de Jorge de Lima), (1926), baseada em parte nas experiências do Cura d’Ars, o tema de Bernanos é a luta entre as forças do bem e do mal para apo­derar-se da alma do homem. Personifica essa luta no sacerdote, protagonista de suas principais no­velas. Seus personagens representam os pólos opostos da conduta humana: da santidade à de­pravação total. Exemplo disto é o Diário de um pároco de aldeia (1936), no qual descreve a guerra de um jovem sacerdote contra o pecado. O peca­do e seus efeitos na alma e no mundo são os que fazem surgir, em seus personagens, a angústia e a desesperança.

“A semente do mal e a do bem voam por to­das as partes — disse o cura. A grande desgraça está em que a justiça dos homens intervém sem­pre demasiado tarde; reprime ou seca os atos sem poder elevar-se mais alto nem mais longe do que quem os cometeu. Mas nossas faltas ocultas en­venenam o ar que outros respiram... Creio que se Deus nos desse uma idéia clara da solidariedade que nos une aos demais, no bem e no mal, não poderíamos, efetivamente, continuar vivendo” (Diário de um pároco de aldeia).

O mal, com efeito, manifesta-se no pecado que se expressa na luxúria das crianças e dos mais velhos, no espancamento de crianças por seus pais e adultos e nos maus-tratos destes não só no cor­po e na alma das crianças, mas também no espíri­to de infância, exaltado pelas bem-aventuranças evangélicas.

Por essa luta contra o mal em todas as suas formas, entra Bernanos na denúncia social e po­lítica: o fundo de seu pensamento nas obras polí­ticas está aqui e não em outro lugar. “A cada vin­te anos, diz em Filhos humilhados, os jovens do mundo fazem sua pergunta, à qual nossa socieda­de não pode responder. Pela falta de resposta, a sociedade os mobiliza... A mobilização da juven­tude chega a ser uma medida indispensável, uma necessidade do Estado, um fenômeno universal.” Esse desmascaramento do mal social e político está presente, principalmente, em suas duas obras O grande medo dos bem-pensantes (1931), sobre

o materialismo das classes médias, e Os grandes cemitérios sob a lua (1936), onde, surpreenden­do-o a guerra espanhola em Mallorca, denuncia as matanças que se fizeram em nome de uma re­belião presumidamente católica.

A política acabou comprometendo e turvando sua vida e sua obra. De 1938 a 1945 auto-exilou­se com sua mulher e seus seis filhos em um sítio no Brasil. Denunciou como escândalo o Tratado de Munique (1938); apoiou De Gaulle em sua luta de resistência contra a invasão alemã na França, escrevendo e transmitindo mensagens de esperan­ça para a população francesa através do rádio e da imprensa. Voltou à França em 1945, encon­trando nela a falta de renovação espiritual que sempre havia desejado. Sua última obra antes de morrer em 1948, foi Diálogo das Carmelitas. Uma grande peça teatral, abordando o caso de uma frei­ra que iniciou sua vida religiosa por seu medo temperamental, mas enfrenta o martírio com va­lentia, porque sua morte foi trocada pela da supe­riora, que, apesar da serenidade e de toda a sua vida de fé, morre entre espasmos de terror.

“Bernanos encanta certos leitores e irrita ou­tros; mas a importância de sua mensagem cresce dia a dia. Impossível incluir Bernanos entre os jansenistas que se ignoram. Se concordarmos em passar por cima de certos excessos de linguagem, certo sobrenatural por vezes inspirado em teatro de fantoches, imediatamente ressalta a precisão teológica das suas visões. Precisamos dele. De­pois de Péguy faltava-nos uma voz que nos desse a impressão quase física da presença do sobrena­tural” (Ch. Moeller, o. c., I, 423).

BIBLIOGRAFIA: Ch. Moeller, Literatura do século XX e cristianismo, I. 

 

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