História da Igreja

Jansênio, Cornélio (1585-1638)

Com o nome latinizado Cornelius Jansenius surgiu uma figura polêmica e por trás dela uma corrente de pensamento e de espiritualidade co­nhecida como jansenismo. Essa corrente causou duras lutas e paixões de pessoas e instituições eclesiásticas, praticamente ao longo de dois sé­culos. Boa parte dessas lutas têm como centro o mosteiro de freiras cistercienses de Port-Royal, o mosteiro próximo a Paris, onde se aprenderam e de onde se difundiram as idéias de Jansênio. Sem identificar ambos os movimentos, é comum falar deles como se fossem a mesma coisa. Falaremos, pois, de Jansênio, os jansenistas ou port-royalistas, e de sua doutrina. Os autores e a literatura impli­cados nesta contenda são altamente significati­vos.

Cornelius Otto Jansen nasceu em Acquoi (Holanda). Ingressou na Universidade de Lovaina para estudar teologia, em 1602. Nela recebeu a doutrina de Miguel *Bayo, morto em 1589, mas cuja influência ainda se deixava sentir. Segundo Bayo, o homem fica de tal forma afetado pelo pecado de Adão, desde o seu nascimento, que é arrastado necessariamente ao mal. Somente a gra­ça de Cristo pode salvá-lo, graça dada somente aos poucos que foram predestinados ao reino dos céus. Essa doutrina definitivamente causou im­pacto a Jansênio e a outro companheiro seu cha­mado Jean Duvergier de Hauranne (1581-1643), conhecido como abade *Saint-Cyran. Finalizados os seus estudos, ambos decidiram renovar a teo­logia como homenagem devida a Deus pelos ho­mens, já que o orgulho dos sábios do Renascimento havia afastado os cristãos de Jesus que se comprazia nos simples e humildes de co­ração.

 

Depois de alguns anos dedicados ao ensino (1612-1616), voltou a Lovaina, onde dirigiu o colégio de Santa Pulquéria, criado para estudan­tes holandeses. Era o momento da violenta dis­puta entre os seguidores de Bayo e os jesuítas. Nele se dedicou à leitura e ao estudo das obras de Santo *Agostinho, que, como ele mesmo nos diz, leu “dez vezes consecutivas”. Interessou-se particularmente pelos textos, dirigidos pelo san­to, contra os pelagianos. Foi então quando co­meçou sua grande obra, o Augustinus. Esse livro custou-lhe 22 anos de esforço. Foi publi­cado depois de sua morte, em 1638, após ter sido reitor da Universidade de Lovaina e bispo de Yprès.

Foram esquecidas, praticamente, todas as de­mais obras e folhetos, em particular os comentá­rios aos evangelhos e ao Pentateuco. Desde sua publicação em 1640, o Augustinus transformou­se num ponto de referência obrigatório para jansenistas e seus contrários. Qual era sua doutri­na? Esta ficou resumida nas cinco proposições condenadas: 1) alguns preceitos divinos não po­dem ser cumpridos pelos justos apenas com a for­ça da natureza humana, portanto, lhes é necessá­ria a graça; 2) a graça interior, que opera sobre a natureza corrompida, é irresistível; 3) para o mé­rito ou demérito se requer unicamente a liberda­de da coação externa; 4) os pelagianos ou semipelagianos são hereges, visto que admitem a possibilidade de a vontade humana resistir ou obedecer à graça; 5) é errado afirmar que Cristo morreu por todos os homens. Essas proposições, elaboradas pelos teólogos jesuítas foram contes­tadas pelos port-royalistas. Receberam uma pri­meira condenação em 1641. Em 1643, *Arnauld pediu em seu livro Da comunhão freqüente uma reforma moral e eclesiástica congruente com as doutrinas jansenistas. Em 1653, Inocêncio X con­denou as cinco proposições. Desde então e até a primeira metade do séc. XVIII continuou a po­lêmica jansenista. Alguns aceitaram as disposi­ções papais, os “aceitantes”; outros apelaram, os “apelantes”. Nesta luta estiveram envolvidas fi­guras como Arnauld, Nicole, *Pascal, *Quesnel, *Saint-Cyran (1634-1719) e outros. A luta jansenista transpassou as fronteiras dos Países Baixos. Em 1723 constituiu-se a Igreja Autôno­ma Jansenista, que ainda existe. Em 1786, o Sínodo de Pistóia defendeu as teses mais extre­mistas do jansenismo.

— Além de comportar uma dogmática, tal como o apontamos, o jansenismo comporta tam­bém uma moral e uma ascética rigorista. É o que se qualificou de “vontade sombria” do jansenismo. Essa vontade pessimista e sombria dos “solitários” de *Port-Royal passou para suas escolas e métodos, dando a todo o movimento jansenista um ar de rigidez característica.

BILBIOGRAFIA: J. Orcibal, Les origines du Jansénisme, 7 vols. publicados entre 1957-1965. Para o Jansenismo na Espanha: M. Menéndez y Pelayo, Historia de los Heterodoxos Españoles, III. El jansenismo regalista en el siglo XVIII (BAC). 

 

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