História da Igreja

Ligório, Santo Afonso Mª de (1696-1787)

A vida de Afonso de Ligório, é extensa quan­to ao tempo: 90 anos completos e densa quanto à atividade desenvolvida. Transcorreu na área so­cial do reino de Nápoles e no ambiente ideológi­co do séc. XVIII, época de fermentação de gran­des revoluções socioculturais (*Deísmo).

Deixando de lado sua atuação inicial como advogado (1713-1723) e restando os anos de for­mação sacerdotal (1723-1726), assim como os últimos anos de sua vida em que sua atividade diminuiu extremamente (1777-1787), a vida ple­namente ativa de Afonso desenvolveu-se durante quatro décadas. Um período longo para o que era e é a média de vida do ser humano.

A densa atividade é a característica de sua vida. Por temperamento e por compromisso de seu trasbordante zelo apostólico, entregou-se de tal modo ao trabalho que lhe pareceu faltar tempo para realizar as tarefas empreendidas. Símbolo de tal característica é o voto que fez de não perder um minuto de tempo, voto especialmente relevan­te se se contextualiza no ideal da vida napolitana, para a qual “il dolce farniente” é um dos traços típicos.

A vida ativa de Afonso desdobrou-se em três grandes capítulos: fundação e organização da Congregação do Santíssimo Redentor (redentoristas); ministério pastoral — da prega­ção, da confissão e da direção espiritual — como sacerdote e como bispo (1726-1775); e labor lite­rário. A personalidade histórica resume-se em três traços fundamentais: fundador, pastor e escritor. Não se podem separar as três facetas indicadas. Formam um todo indivisível. Mutuamente se implicam e se explicam. Também não é proce­dente estabelecer graus de importância entre elas. No entanto, a faceta de escritor é tão óbvia que, no retrato simbólico de Ligório, não podem faltar nem a “pena” nem os “livros”. A essas três facetas se deve acrescentar os títulos póstumos que a Igre­ja lhe reconheceu proclamando-o “doctor celantissimus” (1871) e patrono de “confessores e moralistas” (1950).

A obra literária de Afonso de Ligório costuma ser dividida em três grandes blocos: 1) Obras de teología moral; e cabe citar, entre essas, sua prin­cipal obra, Theologia moralis (1748). A versão popular, ou resumo da mesma feita pelo autor, está nos livros: Instrução e prática do confessor; Homo apostolicus e O confessor da gente do campo.

2) Escritos ascéticos e devocionais: Glórias de Maria; Preparação para a morte; A verdadei­ra esposa de Jesus Cristo (para religiosas); Visi­tas ao SSmo. Sacramento etc.

3) Temas pastorais e teológicos: Selva de ma­térias para pregação (para sacerdotes); A voca­ção religiosa; A oração, grande meio de salva­ção. E outros.

A classificação, evidentemente, não é comple­ta. A obra literária de Afonso abrange ainda suas “anotações de consciência”, sua numerosa cor­respondência e, principalmente, seus escritos para

o serviço interno de sua congregação: circulares, cartas a religiosos de sua ordem, constituições etc. Esses documentos, melhor do que nenhum outro, apresentam-nos os problemas espirituais e mate­riais da personalidade psíquica e humana de Afon­so.

É indispensável falar de sua atividade como moralista, concretizada principalmente em sua Teologia moral. Seguindo Marciano Vidal (Frente al rigorismo moral, benignidad pastoral. Estudios de ética teológica), formulamos os seguintes juízos globais:

— No século XVIII, Afonso representa a de­fesa do direito do cristão simples a viver em tran­qüilidade de consciência e a sentir a graça do amor que Deus outorga com abundância através de Cristo. A obra moral afonsiana significou o final, não penas cronológico, mas também e sobretudo causal, da crise do rigorismo, uma crise que ha­

via submetido a consciência católica a uma overdose de angústia e de abatimento intole­ráveis.

— O significado de Afonso como moralis­ta não reside tanto no conteúdo direto e preciso de seus escritos morais quanto na atitude global adotada por ele em relação à vida moral dos cristãos.

— Desde a segunda metade do séc. XX ini­ciou-se o segundo grande movimento histórico de conversão para Afonso enquanto guia da mo­ral católica. Também essa nova leitura da moral afonsiana fixou-se mais no espírito do autor do que na letra de seus escritos. Por exemplo, ao analisar o sistema moral afonsiano, procura-se mais o fundo antropológico-teológico do que as regras técnicas que dirigem o juízo de consciên­cia. Nesse fundo antropológico-teológico apare­ce a orientação personalista da atitude moral pro­clamada por Afonso: primazia axiológica da li­berdade, paixão pela verdade, estima e cultivo do juízo prudente da consciência.

— Se precisasse selecionar um único traço como característica peculiar da obra moral afonsiana, não duvidaria em afirmar que a moral de Afonso é uma moral salvífica, isto é, pensada para servir de caudal à abundante salvação cristã. A partir desta compreensão salvífica, o projeto moral afonsiano organiza-se como uma estraté­gia contra o rigorismo (M. Vidal, o. c., 225-228).

— Assim nasceu o projeto moral afonsiano como uma moral da benignidade pastoral, recri­ação pessoal do espírito evangélico, que é ao mesmo tempo benigno e exigente (Ibid., 28).

 

BIBLIOGRAFIA: Opere Ascetiche (ed. Crítica), Roma a partir de 1933; Obras ascéticas de San Alfonso Mª de Ligorio (BAC), 2 vols.; Th. Rey-Mermet, Afonso de Ligório, uma opção pelos abandonados, Ed. Santuário; M. Vidal, Frente al rigorismo moral, benignidad pastoral, Alfonso de Liguori (1696-1787). PS, Madrid 1986; Theologia Moralis. Gaudé, Roma 1905-1912, 4 vols.; Homo apostolicus. Pela Editora Santuário: Glórias de Maria, Práticas de amar a Jesus Cristo, A oração, Visitas ao Santíssimo. 

 

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