História da Igreja

Tauler, João (1300-1361)

Discípulo de *Eckhart e dominicano como ele, Tauler ou Tauler representa o pólo eminentemen­te moral diante do predomínio da especulação metafísica daquele e do elemento afetivo de Suso. No pensamento e doutrina de Tauler é fácil en­contrar elementos platônicos e neoplatônicos, sem esquecer outros procedentes de Santo *Alberto Magno e de Santo *Tomás. Tauler é um pregador e um místico interessado mais pela mística do que pela filosofia e pela razão.

Nascido em Estrasburgo, ingressou no conven­to dominicano dessa cidade e depois foi para o Studium generale de Colônia, onde realizou seus estudos. Foi aí que encontrou provavelmente o mestre Eckhart. Quase toda a sua vida transcor­reu em Estrasburgo, onde se dedicou ao ensino e, em especial, à pregação. Não escreveu nenhuma obra. De seus famosos sermões, que vários ou­vintes colocaram por escrito, somente 81 são con­siderados autênticos. Consideram-se apócrifos os tratados que lhe foram atribuídos, como As insti­tuições divinas; Medulla animae; As 10 ceguei­ras espirituais etc.

Sobre o plano da doutrina eckhartiana da união da alma com o uno, Tauler constrói sua doutrina da “essência da alma”, a qual também chama, “união íntima da alma” e “reduto inominável”, como é o próprio Deus. Nessa essência, para além da própria essência da alma, reinam um silêncio e um repouso perpétuos, sem imagens, sem co­nhecimentos, sem ação, em pura receptividade em relação com a luz divina. Tal é a concepção mís­tica de Tauler, baseada na possibilidade de retor­no de uma alma criada por Deus à sua idéia incriada em Deus.

— No pensamento de Tauler ocupa um lugar central a teoria do Gemüt ou disposição estável da alma, que condiciona a atuação de todas as suas faculdades. É o coração ou a tendência ori­ginal do homem enquanto filho de Deus, sua as­piração absoluta ao bem absoluto. É como uma

agulha magnética que se volta, infalivelmente, para o norte. O homem pode desviá-la, mas ja­mais mudar sua tendência original. Está presente em todo homem e não se extingue em nenhum ser humano, nem sequer nos condenados.

— Sendo o Gemüt a atitude estável e perma­nente da alma com sua própria essência, deve transformar-se de impulso vago em consciência luminosa do fim, libertando-se de pensamentos, desejos e afetos até conseguir o pleno desprendi­mento de tudo. Esse impulso, tendência, coração, ímã que é o Gemüt deve tornar-se liberdade ab­soluta, desprendimento, respeito pelas criaturas, para transformar-se em liberdade absoluta no ca­minho que leva a Deus.

— O processo de retorno a Deus acontece em três etapas: o amor doce, o amor sábio e o amor forte. Nesse caminho, a alma despoja-se de sua condição de criatura e identifica-se na “essência” com o próprio Deus. “Perde-se em Deus e mer­gulha no mar sem fundo da divindade”. A alma pode, então, entregar-se completa e confiadamen­te a Deus. Isso não quer dizer que Tauler afirme, como se disse, que a alma se torne divina, idéia na qual tanto insistiu seu mestre Eckhart.

 

A influência de Tauler é notável na história da espiritualidade cristã e particularmente notável é a que exerceu sobre Lutero. Este sentia uma pro­funda estima por Tauler, cujas obras utilizava com freqüencia, anotando-as pessoalmente. “Dele to­mou uma espiritualidade profunda, uma imensa confiança na misericórdia divina, a convicção da própria incapacidade e o desprezo pelas próprias ações. Mas Lutero acabou por interpretar à sua maneira alguns textos de Tauler, que em seu con­texto original tinham um significado muito diver-so” (G. Martina, La Iglesia. De Lutero a nuestros días, 96).

BIBLIOGRAFIA: B. Jiménez Duque-L. Sala Balust, Historia de la espiritualidad. Barcelona 1969, 4 vols; A. Royo Marín, Los grandes maestros de la vida espiritual (BAC), 1973. Obras: Instituciones. Temas de oración. Sígueme, Salamanca. 

 

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