História da Igreja

Voltaire (1694-1778)

François Marie Arouet, que a partir de seus 24 anos fez-se chamar “Monsieur Voltaire”, nasceu em Paris e morreu também em Paris. Considera­do um dos principais pensadores e promotores do *Iluminismo francês, é um dos grandes e mais conhecidos escritores clássicos. Sua influência no pensamento contemporâneo foi decisiva para a formação de uma atitude leiga e finalmente hos­til para a religião. Por sua sutileza, ironia e sar­casmo, envolvidos numa frase perfeita e feliz, mereceu o qualificativo de “venenoso” e “perver­so”. Conseguiu um tipo de pensar e de ser “volteriano”: entre cético e frívolo.

Dos aspectos originais que se podem estudar em Voltaire — sua filosofia e suas idéias, por exemplo — interessa-nos o aspecto religioso de seu pensamento. Já em outra parte (*Deísmo) vi­mos que concebe a religião natural como “os prin­cípios da moralidade da espécie humana”. É tam­bém o criador ou formulador dos princípios do deísmo. Mas o ponto fundamental de toda a sua atitude é a luta contra o fanatismo, “causa de gran­de parte dos males que afligem toda a humanida­de”. “Nessa luta, Voltaire é sincero e movido tam­bém por um impulso que se poderia chamar reli­gioso. Aparentando ceticismo, sente a oposição ao fanatismo como uma missão e como um dever imposto pela dignidade do homem.”

Encerrado nessa concepção puramente natu­ral e racionalista própria do deísmo, incluiu em sua luta contra o fanatismo todas as religiões po­sitivas, especialmente o cristianismo. Apesar de ser um fino historiador, interpreta como intole­rância religiosa os simples excessos do poder temporal de reis e governantes. Inclina-se a ver nesses casos um retorno do poder político à clas­se sacerdotal, que utilizava tais meios para au­mentar sua riqueza e seu poder terreno. Identifica as práticas religiosas do cristianismo com supers­tições vãs; e a verdadeira fé com crenças falsa­mente religiosas.

Voltaire lutou contra o fanatismo e suas con­seqüências ao longo de toda a sua vida e, em es­pecial, no último período. Realizou a luta através de seus escritos, empenhados quase todos eles em tal tarefa, qualquer que seja sua forma. Assim, suas tragédias, particularmente Maomé ou o fa­natismo (1742), voltam constantemente ao tema.

Buscam também esse objetivo seus numerosos ensaios de crítica bíblica e religiosa, por exemplo A tumba do fanatismo (1767); A defesa de meu tio (1769); A Bíblia finalmente explicada (1776); Um cristão contra seis judeus (1777). Nesses ensaios, que às vezes apresentam a forma de sainetes satíricos, toma seus argumentos de toda a crítica bíblica dos deístas e livre-pensadores dos séc. XVII-XVIII, e em particular de Bolingbroke, a quem dedica uma de suas obras.

Outra arma de luta de Voltaire são os ensaios filosóficos propriamente ditos, que indicam de certa forma sua carreira de escritor. Nesta linha estão suas Cartas filosóficas (1754); Observações aos Pensamentos de Pascal (1742); O filósofo ignorante (1761) e as Cartas de Nemmius a Cícero (1771). Em todos esses ensaios filosóficos, ins­pirados nas idéias de Bayle, Clarke, Locke e ou­tros, discorre sobre a religião, brinca com ela e ironiza. Mas o meio preferido por ele, em sua luta contra o fanatismo, foram as “novelas curtas, os contos e a *Enciclopédia. Foram esses três mei­os os mais eficazes para a difusão de suas idéias entre o grande público do séc. XVIII. A partir do conjunto de verbetes da *Enciclopédia de *Diderot, escrito por ele, publicou separadamen­te o Dicionário filosófico manual, no qual extra­vasou todos os seus preconceitos sobre a religião e expôs sua filosofia em geral.

Em sua longa e agitada vida, viveu as experi­ências de um homem intelectual e público: desde

o cárcere na Bastilha (1717), e o exílio na Ingla­terra (1726-1729), até as mais fervorosas ho­menagens populares. A paixão de Voltaire é seu repúdio de todo obscurantismo em nome da ra­zão, obscurantismo personificado na religião e na Igreja de seu século. Seu grito de “esmague­mos a infâmia”, referente à Igreja de todos os tem­pos como protetora da ignorância, da superstição e do fanatismo, foi acolhido por toda uma cor­rente de anticlericalismo e de pensamento des­ligada de toda crença. Tal corrente difundiu-se primeiramente na aristocracia e, depois da Revolução Francesa, em amplos setores da bur­guesia liberal.

BIBLIOGRAFIA: Oeuvres complètes de Voltaire. Ed. de Moland, Paris 1883-1885, 52 vols.; Id., Correspondance génerale. Std. de Th. Besterman, Paris 1953s.; René Pomeau, La religión de Voltaire, 1956. Muitas obras de Voltaire estão traduzidas para o português. 

 

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