História da Igreja

Ratio studiorum (séc. XVI)

Tanto a Reforma como a Contra-Reforma de-ram um impulso formidável ao ensino tanto reli­gioso como leigo. É a época dos *catecismos, da organização de novos *colégios e universidades, das associações da Doutrina Cristã, das congre­gações para o ensino etc. Com essas instituições surgem também novos métodos e planos de estu­do, entre os quais sobressai a Ratio studiorum da Companhia de Jesus.

Um dos ideais que primeiro propôs Santo Inácio de *Loyola a seus companheiros foi “man­ter escolas públicas onde se ensinassem gratuita­mente as ciências”. Esse ideal surgiu muito cedo na Companhia, sobretudo na educação de jovens e de crianças.

O padre Rivadeneira escreveu: “Não sei se existe uma só coisa pela qual a Companhia possa consagrar-se desde agora ao maior serviço de sua Divina Majestade que pela Educação literária da juventude”. E em 1556, esse mesmo padre escre­veu a Felipe II: “Entre outros ministérios que ela executa, não é o menor de seus deveres o ter co­légios... nos quais se recebam gratuitamente, com os conhecimentos necessários para um bom cris­tão, as ciências humanas, desde os rudimentos da gramática até as faculdades mais elevadas... Fun-daram-se na Espanha, em Portugal, na Itália, na Alemanha... E por toda a parte esses estabeleci­mentos responderam a favor dos povos, como comprovam os êxitos e os progressos que Nosso Senhor concedeu em pouco tempo para uma obra que ele parece ter feito sua”.

O instrumento que canalizou e regulou esses ideais foram as Constituições e posteriormente a Ratio studiorum. Dez anos demorou Santo Inácio (1541-1551) para redigir as constituições. A ter­ceira parte destas é composta de 17 capítulos e totalmente dedicada à educação e ao ensino. Os 10 primeiros capítulos enfocam o estilo dos colé­gios, e o restante o problema das universidades. Parece que Santo Inácio tomou o melhor da ex­periência universitária de seu tempo: de Salamanca, a subordinação de todos os saberes à teologia; de Paris, o trabalho pessoal dos alunos; e de Bolonha, os atos públicos e solenes em que intervêm e discutem os estudantes.

A Ratio studiorum é um trabalho posterior às constituições. Coleta a experiência dos primeiros decênios da docência da Companhia, dita um con-junto de disposições direcionadas à prática peda­gógica dos colégios e a ordenar e dar unidade à organização dos centros da ordem em todo o mundo. A Ratio apresenta-se como obra coletiva da Companhia, sob o assessoramento dos vários cérebros mais especializados, e ao mesmo tempo como resultado das experiências nos próprios cen­tros e colégios da época. Para formar esse ambi­cioso plano de estudos entraram os dados trazi­dos pelo padre Jerônimo Nadal e coletados no De ratione studiorum Messinae, colégio que funcio­nava desde 1548; dois tratados escritos pelo pa­dre Polanco, Sobre o modo de fundar colégios e Constituições que nos colégios da Companhia se devem observar; finalmente, a obra do segoviano padre Ledesma, prefeito de estudos do Colégio Romano, De studiis Collegii Romani; e outros documentos menos conhecidos. Foi lento o pro­cesso de elaboração e redação da Ratio. Em 1581 criou-se uma comissão sob a direção do padre Acquaviva. Em 1584 nomeou-se uma nova co­missão composta por representantes da Alema­nha, Áustria, Espanha, França, Itália e Portugal. Depois de sete meses de estudo, fez-se um proje­to para ser submetido à revisão de todos os mem­bros da Companhia. Em 1591 fez-se uma nova redação. Em 1599, o padre Acquaviva aprovou a redação definitiva.

Na Ratio apresentam-se dois planos de estu­dos: os superiores, que compreendem a filosofia e a teologia; e os inferiores, divididos em cinco graus: os três primeiros dedicados à gramática, a seguir um curso de humanidades e depois um de retórica. Era uma educação fundamentalmente literária, com base nas humanidades clássicas, muito ao gosto da época. Busca-se o desenvolvi­mento de todo o homem que termina no bom di­zer, bem alicerçado no bem saber e no bem pen­sar. O eixo de todo o ensino é o latim, baseado numa série de exercícios graduados. O grego fica em segundo plano. Todos os cursos estão relacio­nados entre si de menor a maior grau: desde a gramática à retórica, que é a classe superior.

A originalidade da Ratio reside em muitos fa­tores, tanto externos quanto internos. Entre os fatores externos pode-se contar a oportunidade. É um plano de estudos que vai ao encontro dos problemas de seu tempo. Um instrumento e um método pedagógico fruto do humanismo renascentista, que trata de proporcionar uma edu­cação adequada para a época. Sob o ponto de vis­ta do documento, é evidente que apresenta mui­tas inovações e que representa um passo adiante na educação. As críticas e louvores que recebeu ao longo desses quatro séculos constituem seu melhor aval. “O método opõe-se radicalmente às tendências da pedagogia moderna, que cada vez mais abandona as línguas clássicas para dar sua preferência às ciências positivas, às naturais e à história. Esse sistema tinha a vantagem de for-mar a mente, familiarizando-a com os clássicos e com a filosofia, acostumando-a a gostar da bele­za, do raciocínio rígido, sem preocupar-se com as noções de detalhe. Naturalmente que tudo isto se tornava embebido pelos princípios cristãos.”

BIBLIOGRAFIA: R.G. Villoslada, Manual de Historia de la Compañía de Jesús. Madrid 1954; F. Charmot, La pedagogía de los Jesuitas. Madrid 1956; J. Misson, Les idées pédagogiques de S. Ignace de Loyola. Paris 1932. 

 

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