Syllabus (1864)
Um dos documentos doutrinais mais significativos do velho estilo dos papas anteriores à segunda metade do século XIX é o Syllabus. É fruto e resultado das lutas da Restauração na Europa e da industrialização que seguiram às guerras napoleônicas e à Revolução Francesa. O socialismo, o liberalismo, o racionalismo haviam irrompido em cena, querendo afogar a fé e a tradição da Igreja.
Seguindo a linha da encíclica Mirari vos de Gregório XVI (1832), na qual se condenam o indiferentismo e a liberdade de consciência, “essa fonte infecta do indiferentismo da qual nasce esse delírio de que se deve assegurar e garantir a cada um a liberdade de consciência”, Pio IX publica em 1864 dois documentos. Um, a encíclica Quanta cura, na qual condenava o racionalismo, o liberalismo etc., tal como o haviam pedido alguns bispos “ultramontanos” franceses e outros intelectuais, tais como L. Veuillot. Anexo a essa encíclica estava um catálogo (Syllabus) de 80 proposições condenadas, no estilo das que seguem:
�. A Igreja deve separar-se do Estado e o Estado da Igreja (55).
�. É lícito negar a obediência aos príncipes legítimos e até rebelar-se contra eles (66).
�. Em nossa sociedade não convém que a religião católica seja a única religião do Estado, com exclusão de quaisquer outros cultos (77).
�. O Romano Pontífice pode e deve reconciliar-se e consentir com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna (80).
A última proposição, a 80, parece implicar o repúdio a toda a sociedade moderna. Os católicos intransigentes exultaram! Os anticlericais zombavam: o papa vai eliminar os trens em Roma. Os católicos liberais sentiram-se desaprovados e cheios de surpresa. Hoje o julgaríamos defasado e superado, mas é expressão de uma Igreja clerical, fechada sobre si mesma, que quer impor-se com o anátema, afastada da realidade.
BIBLIOGRAFIA: R. Aubert, O pontificado de Pio IX, tomo 21 da História da Igreja de Fliche-Martin.
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