CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) (1955)
As conferências episcopais — com longa tradição na Europa, América, Ásia e África — receberam um impulso e funções muito especiais no Concílio *Vaticano II.”... Esse sacrossanto Sínodo julgou ser de toda a conveniência que, em todo o mundo, os Bispos de uma nação ou região se agrupem numa única assembléia, para que periodicamente se reúnam, comunicando entre si as luzes da prudência e da experiência, deliberar entre si e formar uma santa conspiração de forças para bem comum das Igrejas” (CD 37s.). “Onde as condições especiais o exigirem, os Bispos de várias nações, com a aprovação da Sé Apostólica, podem constituir uma única conferência” (idem 38, 5).
Tanto as conferências nacionais quanto as continentais adquirem uma dimensão e uma influência que nunca tiveram anteriormente. Em nível continental, merece destaque o Conselho Episcopal Latino-Americano, conferência de bispos de 22 nações de língua portuguesa e espanhola. O protagonismo que esse conselho tem representado na vida religiosa, pastoral, social e política na América Latina nos leva a abrir um espaço maior para ele.
O CELAM nasceu em 1955, e *João XXIII o descreveu como um dos “organismos mais importantes da estrutura católica universal”. Tem seu secretariado permanente em Bogotá (Colômbia). Com sua constituição e estatutos próprios, celebra uma assembléia geral anual, à qual comparecem delegações episcopais de todos os países da América Latina. Essa assembléia geral é seguida de uma sessão extraordinária dedicada a questões monográficas sobre temas candentes. Desta maneira, o Conselho converte-se na caixa de ressonância de todos os problemas que a Igreja tem na América do Sul. É uma tomada de consciência, de estudo, de planejamento e deliberação de orientações e decisões a seguir, através de seus treze departamentos pastorais.
A atuação preferencial do CELAM é marcada pela realidade de América do Sul: uma realidade plural de subdesenvolvimento e riqueza, de revolução e repressão, de democracia e ditadura, de ignorância e atraso cultural e de eclosão vital e social. Nos quarenta longos anos de existência, o CELAM teve e ainda tem de fazer frente, tanto aos problemas internos da Igreja Sul-Americana, quanto à realidade sociopolítica e cultural do meio. A eles fez frente em três grandes conferências. A primeira, em 1966, realizada em Mar del Plata (Argentina), cuja ordem do dia era: “A presença ativa da Igreja no desenvolvimento econômico e social”. Em sua declaração final, convidavam-se os católicos latino-americanos a “estimular as reformas de estruturas necessárias para maior participação da população na vida política, econômica, social e cultural”. Sublinha-se, de maneira particular, a necessidade da reforma agrária. O resultado mais positivo dessa primeira conferência geral foi o chamado Manifesto dos Bispos do Terceiro Mundo, assinado em 1967 por Hélder *Câmara, arcebispo de Recife no Brasil; Méndez Arceo, bispo de Cuernavaca, no México, e Larraín, bispo de Talca no Chile.
A II Conferência geral do CELAM aconteceu em Medellín (Colômbia) em 1968. Medellín é um nome mágico, que representa o ponto de partida real e eficaz da postura e da ação pastoral dos últimos anos da Igreja Latino-Americana. Presidida pelo Papa *Paulo VI, que pronunciou seu discurso inaugural, Medellín resultou numa sacudida muito forte na consciência de toda a América. “A realidade da América é trágica — diz o documento-base — e exige uma resposta tão rápida quanto eficaz”. Medellín fez uma análise da situação real na América, procurou suas raízes e tratou de encontrar caminhos para soluções eclesiais. Não canonizou a violência, mas deu a entender que a compreendia sem compartilhar quando criticou duramente a violência institucional dos poderosos que se opõem à dignidade humana e oprimem a liberdade”.
O mais importante de Medellín foi a colaboração conjunta do episcopado, de sacerdotes, religiosos, leigos de diferentes tendências, assim como de alguns dos teólogos e movimentos mais comprometidos da América. Pela primeira vez atuaram teólogos da libertação na pessoa de seu principal representante, o peruano Gustavo Gutiérrez. “Um continente como a América Latina — diz — não vem, em primeiro lugar, do não-crente, senão do não-homem; quer dizer, daquele a quem a ordem social não reconhece como tal: o pobre, o explorado, o que é sistemática e legalmente despojado de seu ser de homem,
o que apenas sabe que é um homem”... Essas palavras explicam e justificam essa magna assembléia.
Desde então, o CELAM tem prosseguido seu trabalho “orientado por uma linha de prudência”, como se viu nas assembléias de São José (Costa Rica, 1970) e de Sucre (Bolívia, 1972). Essa mesma linha de “compromisso prudencial” refletiuse na III Conferência do Episcopado Latino-Americano, ocorrida em Puebla (México) em 1979. Não obstante, a Conferência de Puebla retomou as propostas de Medellín nos cinco núcleos preparados pela própria assembléia: 1) Visão pastoral da realidade na América Latina (4 temas); 2) Reflexão doutrinal: desígnios de Deus sobre essa realidade e evangelização; 3) Evangelização na e pela Igreja na América Latina; 4) A Igreja, evangelizadora e missionária hoje e no futuro da América Latina; 5) Grandes prioridades pastorais. Em torno destes cinco grupos temáticos, sobre o esquema votado e aprovado por unanimidade, estruturou-se o trabalho dos quinze dias que durou a III Conferência. Seu fruto mais visível e imediato foi a publicação dos documentos: a mensagem aos povos da América Latina e o documento, propriamente dito, objeto da maior parte dos trabalhos.
“Parece que a reunião de Puebla fez-se perfeitamente consciente, diante das pressões da direita e da esquerda, da realidade latino-americana e evitou a tentação fácil da condenação indiscriminada. E se é certo que condena o coletivismo marxista, também condena o liberalismo capitalista e a doutrina da segurança nacional. Condena a violência guerrilheira, mas também a violência institucionalizada desde o poder... Há, por outro lado, uma justa valorização das culturas autóctones e uma defesa das denúncias proféticas, e muito escassas, embora claras, referências a temas mais polêmicos e menos essenciais, como o do celibato”.
BIBLIOGRAFIA: Medellín. Reflexiones en el CELAM, pelo Secretariado do CELAM (BAC). Madrid; Conclusões da Conferência de Puebla, Evangelização no presente e no futuro da America Latina, 1979; B. Hernando. Puebla-79, em 2000 Años de cristianismo, 6, 280s.
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