História da Igreja

Nietzsche, Friedrich Wilhelm (1844-1900)

Escritor e filósofo alemão. Cursou seus estu­dos nas Universidades de Bonn e Leipzig, onde se especializou em filologia clássica, entusiasman­do-se com a filosofia de *Schopenhauer e a mú­sica de Wagner. Em 1870 foi nomeado professor de filologia clássica em Basiléia, atividade que deixou em 1878 por grave enfermidade. O res­tante de seus dias esteve em Sils Maria, na Riviera, e em diversas cidades da Itália e da Alemanha, quase sempre solitário e rodeado, às vezes, de seus escassos amigos e discípulos. Na última década de sua vida foi vítima de um obscurecimento mental e paralisia, fruto de uma depressão nervo­sa que vinha sofrendo há muitos anos.

No pensamento e atividade de Nietzsche cos­tumam distinguir-se três períodos. O primeiro — que vai desde seus estudos até 1878 — caracteri­za-se por seus primeiros trabalhos de interpreta­ção e crítica da cultura do Ocidente e do cristia­nismo, e pela exaltação e devoção que sente por Schopenhauer e Wagner. Deste período são as suas obras: A origem da tragédia (1872); A filosofia na época trágica dos gregos (1874) e Considera­ções intempestivas (1875-1876). No segundo — a partir da ruptura com Wagner (1878) — mani­festa sua exaltação pela cultura e espírito livres. Está representado por obras como Humano, de­masiado humano (1876-1880); Aurora (1881); A gaia ciência (1882). Finalmente, o terceiro, cha­mado período de Zaratustra ou da vontade de po­der, com obras como Assim falou Zaratustra (1883); Para além do bem e do mal (1889); Genealogia da moral (1887). A essas seguiram­lhe outras bem conhecidas como O anticristo; O imoralista; A vontade de poder; Ensaio de uma transmutação de todos os valores; O niilismo europeu; Os princípios de uma nova escala de valores, e os aforismos definitivos sobre o Eter­no retorno.

Apesar desses períodos de seus contrastes e contradições, os críticos encontraram em Nietzsche uma unidade de pensamento em toda a sua obra. Reduzida a um esquema, poderia ser o seguinte: a) A distinção entre o apolíneo e o dionisíaco na cultura grega e em toda a cultura ocidental leva-o a uma exaltação de Dionísio como “afirmação religiosa da vida total, não re­negada nem fragmentada”. É a exaltação do mun­do tal como ele é, sem diminuição, sem exceção e sem eleição: exaltação infinita da vida infinita. b) A inversão dos valores — na qual Nietzsche via a sua missão e o seu destino — aparece em sua obra como uma crítica da moral cristã, redu­zida por ele substancialmente à moral da renún­cia e do ascetismo. A moral cristã é a rebelião dos inferiores, das classes subjugadas e escravas, contra a casta superior e aristocrática. Seu verda­deiro fundamento é o ressentimento: o ressenti­mento daqueles a quem é proibida a verdadeira reação da ação, e que encontram sua compensa­ção numa vingança imaginária. c) Os fundamen­tos da moral cristã: o desinteresse, a abnegação,

o sacrifício são o fruto do ressentimento do ho­mem fraco diante da vida. d) O tipo ideal da mo­ral corrente, o homem bom, existe somente às custas de uma fundamental mentira: negar a rea­lidade, tal como está feita. O último resultado é negar a vida, não aceitá-la. e) Como contraposição, Nietzsche exalta tudo o que é ter­reno, corpóreo, anti-espiritual, irracional. “Eu ensino aos homens uma vontade nova: seguir voluntariamente o caminho que os homens segui­ram cegamente, aprovar esse caminho e não ten-tar refugiar-se como os doentes e decrépitos” (As­sim falou Zaratustra). Tal é a vontade de viver ou de poder: porque a vida é o valor supremo.

Para a conquista da vida e do mundo, Nietzsche propõe o eterno retorno e o super-ho­mem. Porque o “eterno retorno” nada mais é do que o sim que o mundo diz a si próprio, é a auto­aceitação do mundo, a vontade cósmica de rea­firmar-se e de ser ela mesma: expressão cósmica daquele espírito dionisíaco que exalta e bendiz a vida. “Esse mundo tem em si uma necessidade, que é sua vontade de reafirmar-se e, por isso, vol­tar eternamente sobre si mesmo.”

E se a fórmula do “eterno retorno” é a fórmu­la central, cósmica, do filosofar de Nietzsche, a do super-homem é a sua palavra final. “O ho­mem deve ser superado — diz Zaratustra —. O super-homem é o sentido e o fim da terra. É a expressão e encarnação da vontade de poder. Portanto, o homem deve ser superado.” O que significa que todos os valores da moral corrente

— que é moral gregária — devem ser trans­mudados. Para conseguir esse super-homem, deve-se renunciar aos valores constitutivos da cultura ocidental: a filosofia, a metafísica e a éti­ca platônicas, juntamente com a contribuição ju­daico-cristã a ela.

Nietzsche propõe um niilismo absoluto e total para a consecução do super-homem. Consiste em fazer tábula rasa de todo pensamento filosófico grego e cristão. O super-homem exige a morte de Deus, do Deus dos metafísicos, do Deus monoteísta, do Deus moral das contraposições metafísicas entre o bem e o mal, mundo real e mundo aparente. Somente assim será possível a liberdade, característica do super-homem. Somen­te assim se construirá uma vida e uma moral aci­ma e além do bem e do mal.

Dificilmente se pode dizer, em poucas pa­lavras, o que significou e ainda significa Nietzs­che para o cristianismo. Filósofo da “suspeita”, assim como *Marx e *Freud, “criou uma filoso­fia onde não há um acontecer objetivo, uma ga­rantia estável, onde Deus morreu e onde o ho­mem só pode existir como super-homem”. Nietzsche quis realizar o infinito para o homem e no homem. Transmudou os valores eternos pelos do mundo.

BIBLIOGRAFIA: Obras em português: O Anticristo; Crepúsculo dos ídolos; A genealogia da moral; A origem da tragédia; Assim falava Zaratustra; A minha irmã e eu; Além do bem e do mal; Ecce Homo: como cheguei a ser o que sou e outras; Eugen Fink, La filosofía de N., 1969; Gonzalo Sobejano, Nietzsche en España, 1967. 

 

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