História da Igreja

Gregório de Nissa, São (335-395)

A personalidade de Gregório de Nissa desta­ca-se entre os demais capadócios por sua siste­matização doutrinal da fé cristã sobre a base de um encontro substancial com a filosofia grega, principalmente platônica. Torna a repetir o em­penho de *Orígenes de iluminar a fé com a gran­de filosofia grega.

Nascido em Cesaréia de Capadócia, seguiu bem de perto os passos e as lutas dogmáticas de seu irmão São *Basílio Magno, e de São *Gregório Nazianzeno. Começou como profes­sor de retórica, e depois, próximo de 360, passou ao estudo da teologia e da vida monacal sob a inspiração e guia de seu irmão Basílio. Em 372 foi consagrado bispo de Nissa, mas prontamente foi acusado e deposto por instigação de Valente, até que, na morte deste, foi chamado pelo povo à sua sede episcopal. A partir desse momento, en­tregou-se a seu trabalho como bispo e em várias missões de frente, pela pacificação das Igrejas da Transjordânia. Em 381 tomou parte no II Concí­lio Ecumênico de Constantinopla, onde foi reco­nhecido pelo imperador Teodósio como um dos grandes defensores da comunhão ortodoxa. Foi

considerado, desde então, o maior defensor da fé católica contra os arianos.

Gregório de Nissa foi, antes de tudo, um ho­mem de estudo, um teólogo. Sua principal obra é

�.                o Hexámeron e a Criação do homem. Uma das facetas mais pessoais de São Gregório de Nissa são os seus escritos ascéticos e místicos. Citemos, por exemplo, a Vida de Macrina, sua irmã; o tratado Da virgindade, e principalmente sua obra mística Vida de Moisés. A travessia do deserto realizada por Moisés é modelo do progresso da alma através das tenta­ções do mundo para chegar a Deus. Uma de suas idéias fundamentais neste ponto é que a perfei­ção não é estática, mas está em constante cresci­mento. Completa-se seu labor pastoral nas cartas e sermões, destinados a celebrar os santos de

 

Capadócia, ou abordar os problemas de ordem dogmática e moral próprios de seu tempo.

— Em São Gregório de Nissa tornamos a en­contrar toda a temática dos padres capadócios e das formulações de *Orígenes: doutrina sobre a Trindade já expressa em termos que seriam o pon­to de partida para a teologia posterior; doutrina sobre a natureza de Cristo, sobre a fé da Igreja, sobre os sacramentos etc. Particular interesse ofe­rece sua doutrina sobre a criação do mundo e a criação do homem, esta “por um ato de amor superabundante”. O homem é um microcosmos, e é também imagem de Deus. Seu tributo funda­mental é a liberdade. Sem liberdade não haverá virtude, nem mérito, nem pecado. Somente na li­berdade está a origem do mal. O corpo não é um mal, nem a causa do mal, porque é uma criação de Deus. O mal está em nosso interior e consiste no desvio do bem devido ao livre-arbítrio. Pelo pecado, o homem perde sua condição de imagem e semelhança de Deus.

— Para dirigi-lo em seu caminho de retorno ao ideal primeiro, tal como saiu o homem das mãos de Deus, foi necessária a encarnação do Logos. A natureza divina uniu-se à humana como a chama se une ao corpo inflamável, ou como a alma supera os limites de nosso corpo e se movi­menta livremente com o pensamento através da criação inteira. A redenção de Cristo transforma­rá os homens e os conduzirá novamente à sua condição primeira.

— “Pela encarnação e redenção de Cristo, toda a natureza, e principalmente todo o homem, che­gará à apocatástasis, à reconstrução da condição feliz” (Or. Cath., 10). “Até o inventor do mal, isto é, o demônio, unirá sua própria voz no hino de gratidão ao Senhor” (Ibid., 26). Com a ressurrei­ção do corpo, o homem entra no conhecimento místico de Deus, o êxtase. Este paira por cima das aparências e da própria razão. O ver consiste em não ver, já que a energia divina é inconcebí­vel e inefável.

 

Gregório de Nissa: a) representa a expressão máxima da especulação cristã dos primeiros sé­culos, acima, inclusive, de Orígenes. b) A doutri­na cristã tem nele sua primeira sistematização doutrinal, sobre o fundamento de uma filosofia grega, particularmente platônica e neoplatônica. c) Fez avançar a teologia trinitária, e do mesmo modo que os demais capadócios não conseguiu explicar satisfatoriamente a unidade (essência) das pessoas com sua diversidade (individualidade).

BIBLIOGRAFIA: Obras: PG 44-46; Quasten, Patrología, II, 267s.; de J. Daniélou (SC 1, 1956). 

 

CONTRIBUIÇÃO COM O SITE
 
marcio ruben
pix 01033750743 cpf
bradesco

Examinais as Escrituras!

FILOSOFIA