Hinos e cantos
Lugar destacado na literatura cristã merecem os hinos, salmos e cânticos e, em geral, a poesia. Desempenham um papel importante na liturgia e na vida particular. São fonte ou lugar comum da fé e das crenças cristãs num determinado momento.
No Novo Testamento, encontramos os primeiros cânticos cristãos como o Magnificat, o Benedictus, Gloria in excelsis, Nunc dimittis. *Clemente de Alexandria compôs um hino métrico em anapestos a Cristo salvador: “Rei dos santos, Verbo todo-poderoso do Pai, Senhor Altíssimo...”.
Do séc. II é também o famoso hino vespertino: “Phos Hilarion”: “Luz serena da glória santa do Pai eterno, ó Jesus Cristo”.
Dos princípios do século II são as Odes de Salomão, descobertas em 1905, de caráter místico, nas quais se quer reconhecer a influência do evangelho de São *João. Da mesma época são os Oráculos sibilinos cristãos, poemas didáticos em hexâmetros.
A poesia cristã faz sua aparição também nos epitáfios, e o faz muito cedo. Por sua antigüidade e importância, merecem ser mencionados os textos dos epitáfios de *Abércio (finais do séc. II) e de Pectório (séc. II). A redação do primeiro está feita num estilo místico e simbólico, segundo a disciplina do arcano, para ocultar seu caráter cristão aos não iniciados: “Chamo-me Abércio, sou discípulo do pastor casto que pastoreia seus rebanhos de ovelhas por montes e campos, que tem os olhos grandes que olham por todas as partes”.
Por sua vez, o epitáfio de Pectório, cujos primeiros cinco versos estão unidos entre si pelo acróstico Ichthys, diz assim: “Ó raça divina do Ichthys, conserva tua alma pura entre os mortais, tu que recebeste a fonte imortal de águas divinas!”
Os séculos III-IV incorporam definitivamente os hinos à liturgia.
Do séc. IV escolhemos dois exímios poetas: Santo *Efrém Ciro (307-373), nascido em Nísibe (Mesopotâmia) e morto em Edessa. É conhecido pelo atributo de “Cítara ou harpa do Espírito Santo”. O segundo poeta do séc. IV é Aurélio Clemente *Prudêncio, nascido em Saragoça em 348. Muitos dos hinos desses dois poetas passaram à liturgia tanto oriental quanto ocidental. A partir, principalmente, da legalização do cristianismo (313), encontramos um desenvolvimento sistemático dos hinos. Surgem com maior profusão na liturgia bizantina do que na latina. Santo *Hilário de Poitiers compôs um hinário por volta de 360. E, não muito depois, Santo *Ambrósio criou em sua Igreja de Milão o canto coral de salmos e hi-nos, em parte para rejeitar os hinos cantados pelos arianos. Da influência desses hinos e de sua beleza temos o testemunho pessoal de Santo Agostinho em suas Confissões (l, IX-X).
A história dos hinos e de sua implantação na liturgia e na piedade da Igreja chega até nossos dias. Seu tratamento recebeu variadas formas musicais: melodias populares, canto gregoriano, polifônico, coral etc. É conhecido o papel que os hinos e salmos tiveram na propagação da Reforma Luterana e em geral das Igrejas Reformadas.
BIBLIOGRAFIA: Para os primeiros hinos cristãos, ver
J. Quasten, Patrología, I, 155s., com a bibliografia ali reunida; Obras completas de Aurelio Prudencio. Edição bilíngüe preparada por A. Ortega e I. Rodríguez (BAC). Para informação geral do tema, ver Encyclopaedia Britannica, vol. 6, Hymn.
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