Educadores cristãos (séc. XVI-XVII)
Sob essa epígrafe englobamos os homens e instituições dedicados ao ensino, nascidos no calor da Contra-Reforma. O cenário é a Europa e a América dos séc. XVI e XVII. Já havíamos visto as escolas e as universidades da Igreja na Idade Média (*Escolas e Universidades). Também se podem ver a atividade e a orientação pedagógica dos Irmãos da vida comum (*Kempis, *Erasmo). Não menos interessante foi a atividade pedagógica dos jeronimianos, que desde o séc. XIV se dedicaram à educação gratuita de todo tipo de crianças nos numerosos centros fundados por eles no centro da Europa. Para os jesuítas, *Ratio Studiorum, *Santo Inácio.
Entre as numerosas instituições surgidas do espírito de Trento e fomentadas por Pio V e seus sucessores, queremos relembrar as seguintes: 1) O “oratório” de São Filipe Néri; 2) São Carlos Borromeu e sua obra; 3) As “Escolas Pias” de São José Calasâncio; 4) As “Escolas cristãs” de São João Batista de la Salle; 5) O “oratório” de Pierre de Bérulle na França etc.
1. São Filipe Néri (1515-1595), denominado
o “Apóstolo de Roma”, é a figura do educador inteiramente consagrado à elevação das classes populares. No seu tempo foi conhecido como o “Santo Sorridente”. Fundou o Oratório com o fim de entreter e reeducar os rapazes dos bairros humildes de Roma, conseguindo desta forma sua formação religiosa e educação social. A instituição do Oratório adiantou-se a seu tempo, oferecendo métodos pedagógicos vivos e atraentes como passeios, jogos, recreio e trabalho comum, canto polifônico, acompanhando representações teatrais.
2. O típico homem da Contra-Reforma é São Carlos Borromeu (1538-1584), cardeal arcebispo da arquidiocese de Milão. Assistiu às últimas sessões do Concílio de *Trento. Iniciou as reformas do Concílio em sua diocese e criou os primeiros seminários para a formação do clero. Na questão de educação, favoreceu os jesuítas, barnabitas e somascos; fundou o Instituto da escola, promoveu a criação de escolas, orfanatos, colégios, como o Colégio helvético (1579). Seguindo as recomendacões do Concílio de Trento, dispôs com o caráter obrigatório que todo pároco deveria criar gratuitamente uma escola elementar. E para a juventude universitária criou um centro, depois chamado Almo colégio Borromeu, para que, através da ciência e da fé, conseguisse um nível superior. Estimulou a beata Ângela de Mérici na organização das ursulinas (1544) para a formação das jovens.
Sua obra escrita de grande alcance e influência é o Catechismus romanus ad parochos (1564), texto oficial para o ensino cristão em sua diocese. E um tratado teórico de formação pedagógica para seus centros de educação: A educação cristä e política dos filhos, escrito por Sílvio Antoniano, inspirado na doutrina e no espírito do santo bispo.
3. São José Calasâncio (1556-1648). Nascido em Peralta da Sal (Huesca), estudou em Alcalá e Salamanca. Estabeleceu-se em Roma onde se dedicou ao ensino popular. É o fundador da escola popular moderna e patrono da escola primária cristã. Abriu sua primeira escola popular no Trastevere romano em 1597. Para dar continuidade à sua obra, fundou uma congregação religiosa chamada das Escolas Pias, cujas constituições expressam as características, o estilo e o método distintivos da nova instituição. Sob o lema “piedade e letras” incluíram-se os ensinamentos fundamentais: leitura, escritura, cálculo e língua latina. Deu-se ao ensino um caráter eminentemente prático como preparação para o futuro trabalho. Às Constituições (1610) deve-se acrescentar outros escritos, fundamentalmente cartas, dirigidos para manter e aperfeiçoar a obra, principalmente para a formação dos mestres.
4. Pierre de Bérulle (1575-1629), conhecido por seus escritos espirituais, e também por ter criado o Oratório de Paris (1611), que se estendeu por toda a França, Bélgica, Savóia e Roma. Inspirada nos princípios de São Filipe Néri, a obra de Bérulle adquire um desenvolvimento tanto em seus métodos quanto em seu programa e público. O oratório francês é uma elevada instituição para a formação do clero e das elites. Ganhará a admiração de Descartes e de seu discípulo Malebranche. Sob a direção do superior geral P. Condren, redigiu-se um plano geral — uma Ratio studiorum a magistris et professoribus congregationis Oratorii Domini Jesu observanda (1631) —, em que se tratava da disciplina, dos estudos e dos métodos, acrescentando-se novas disciplinas ao curriculum.
5. Na segunda metade do século XVII e no primeiro quarto do XVIII, encontramos São João Batista de la Salle (1651-1719). É, de longe, a figura mais representativa da pedagogia popular francesa do século XVII. Nesta tentativa foi precedido e estimulado por notáveis exemplos de sacerdotes e mestres dedicados ao ensino da juventude, entre eles São Pedro Fourier. Em 1686, João Batista de la Salle uniu-se a vários sacerdotes para criar uma nova congregação, totalmente dedicada ao ensino gratuito, ainda que para isso fosse necessário que seus membros “pedissem esmola” ou “vivessem somente de pão”. Preocupado com a formação dos novos mestres, criou um seminário de mestres urbanos e um seminário para mestres rurais, que constituíram os primeiros e sérios ensaios de escolas normais que conhecemos. Seu trabalho pedagógico completou-se com as escolas dominicais para jovens operários, a escola de artes e ofício para a reeducação dos delinqüentes, internos, classes de adultos, escolas noturnas, patronatos — toda uma rede de serviços pedagógicos concebidos dentro do que se conhece como “escolas cristãs”.
Para dar base teórica às suas numerosas fundações, La Salle publicou vários tratados escolares como Os deveres do cristão; As regras de boas maneiras e urbanidade; Coleção de cânticos, com coplas para serem cantadas na escola. Mas a obra propriamente didática é o Guia das escolas — em seu original francês Conduite des Écoles Chrétiennes —, aplicação na prática escolar de uma teologia da educação.
6. Em último lugar, porém não menos importantes, citamos a Didactica Magna de Comenius, latinização de João Amós Comensky (1592-1670), pertencente à ordem dos Irmãos moravos. Escrita em tcheco em 1628, mereceu para seu autor o qualificativo de pai da pedagogia moderna e o organizador e propagador da escola nacional. “Teve a arte de integrar em suas obras idéias dos melhores moralistas e pedagogos anteriores a ele, elaborando assim um interessante plano pedagógico de grande influência posterior”.
Os séculos XVIII-XX produziram grandes pedagogos e instituições pedagógicas, algumas das quais estão resenhadas neste dicionário.
BIBLIOGRAFIA: San José de Calasanz. Su obra. Escritos, I (BAC). Madrid 1956; S. Gallego, Teología de la educación en San Juan Bautista de la Salle. Madrid 1958;
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