Häring, Bernhard (1912-1998)
Nasceu em 1912 em Böttingen (Alemanha). Ordenado sacerdote em 1937, participou como soldado enfermeiro na frente russa na II Guerra Mundial (1940-1945). Terminada a guerra, obteve o doutorado em teologia em Tubinga. Desde 1949 dedicou-se ininterruptamente ao estudo e à docência da teologia moral. Ao final do curso acadêmico, 1987-1988, deu sua última lição na Academia Alfonsiana de Roma. Desde 1988, reside em Gars, povoado próximo de Munique.
O nome de Häring está vinculado, indissoluvelmente, à renovação da teologia moral católica. O que fizeram, em princípios do séc. XX, P. Lippert, R. *Guardini, K. *Adam no campo da teologia dogmática, fez ele uns anos mais tarde no terreno da teologia moral. Sua tentativa foi redescobrir uma moral bíblica em torno da idéia da imitação de Cristo. O repúdio a uma moral casuísta e ao juridicismo foi o que o guiou em seu esforço para recriar uma moral católica. Esse repúdio é dirigido contra o moralismo e propõe uma superação do formalismo e do legalismo para dar a primazia ao amor, que é a vida com Cristo e em Cristo. Resgata para a moral cristã o personalismo como relação da pessoa com o tu, com o tu absoluto: Deus.
Realiza essa volta ao enfoque essencial da moral em sua obra fundamental A lei de Cristo. Teologia moral para acerdotes e leigos (1954), que o transforma num dos pais da nova teologia moral católica. Por sua concepção, estrutura e estilo, a obra conseguiu interessar a grandes setores do mundo eclesiástico, apesar de seus três grossos volumes. As edições sucederam-se ininterruptamente ao longo desses 40 anos, tanto em alemão quanto em suas traduções para as línguas cultas.
Seus esforços para conseguir uma síntese vital entre a moral e a vida, partindo da superação da dicotomia existente entre o dogma e a moral, cristalizam-se nestas coordenadas:
2. Uma moral da vida. Na moral de Häring, fé e vida estão sempre unidas. Sua teologia moral tem muito de existencial, porque a encarna como ciência de “Deus em relação comigo”. A moral “não pode ser exercida” em forma neutra ou sem se comprometer. Daí: a) seu conceito integral da pessoa. O homem deve ser visto inserido na realidade de seu “contexto social”: ambiente e comunidade; b) da responsabilidade. O homem é pessoa. Por isso lhe vem o que por si e de si responda.
<span style="font-size:11.0pt;Times New Roman" "="">3. O chamado de Cristo. Somente há uma resposta quando antes há um chamado. A partir desta idéia central de responsabilidade, ramifica-se a teologia moral de Häring em torno de dois grandes núcleos: o chamado de Cristo e a resposta do homem. Em torno deste chamado de Cristo e à resposta do homem, oferece Häring todos os temas cristãos da moral cristã: a consciência, a liberdade, a lei, o pecado, a conversão, os mandamentos etc.
Esse magistério de Häring através de sua obra central A lei de Cristo (Herder, 1960), ampliada e refundida em suas últimas edições sob o título de Livres e fiéis em Cristo (Paulinas), ampliou-se ao longo dos anos em quatro frentes fundamentais: a) Publicações de livros e colaborações em revistas científicas e populares. Häring escreveu mais de 40 obras sobre os diversos problemas morais. Mencionamos algumas: Força e fraqueza da religião; Cristão e o mundo; O matrimônio em nos-so tempo; A mensagem cristã e a hora presente etc. b) Cursos e conferências a grupos especializados e a religiosos e seculares de toda classe e condição, praticamente em todas as partes do mundo. c) Seu trabalho docente na “Academia Alfonsiana”, em contato direto com milhares de sacerdotes e educadores ao longo de 40 anos. d) Finalmente, mas não em último lugar, Häring foi um impulsor do espírito e da obra do Concílio *Vaticano II. Sua participação ativa e direta no Concílio, em concreto na redação da Gaudium et Spes, posteriormente no debate gerado em torno da Humanae Vitae de Paulo VI, e em geral em toda a renovação pós-conciliar da teologia moral fazem dele o pioneiro e o impulsor do movimento renovador no campo moral do espírito do concílio.
Somente resta dizer que, apesar do reconhecimento unânime e universal que seu trabalho obteve, ou talvez por isso, sua pessoa e sua obra viram-se submetidas recentemente a um “proces-so doutrinal” por parte da Congregação da Doutrina da Fé (1975-1979). Conta os pormenores em seu último livro de caráter autobiográfico: Fé, história e moral. Esse processo doutrinal é a raiz da crise da Humanae Vitae em 1968. Recrudesce quando em janeiro de 1989 escreveu um artigo, pedindo ao papa uma reconsideração da doutrina oficial sobre a contracepção.
BIBLIOGRAFIA: Grande parte da obra de B. Häring foi traduzida em português por diversas editoras, por exemplo: É tudo ou nada e É possível mudar (Ed. Santuário); V. Schurr-Marciano Vidal, Bernardo Häring y su nueva Teología Moral Católica. PS, Madrid 1989.
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