Lefèvre d’Etaples (1455-1537)
No movimento humanista francês, inspirado no italiano, destaca-se Lefèvre d’Etaples. É o tipo de humanista que coleta e expõe, com grande liberdade especulativa, os temas da filosofia humanística. Iniciador dos estudos humanísticos, aspirou a restaurar primeiramente o verdadeiro Aristóteles. Mais tarde inclinou-se para um movimento de pensamento vinculado, por sua vez, com os florentinos, em particular *Ficino e *Pico de la Mirândola, com *Lúlio e com *Nicolau de Cusa. Dos florentinos, de Lúlio e particularmente do Cusano fará edições, apresentando-os como mestres da filosofia cristã. A publicação desses livros, viagens pela França, Alemanha e Itália fizeram dele homem de letras conhecedor perfeito de tudo o que produziram a filosofia, a teologia e a mística anteriores a ele.
— O trabalho literário e editorial de Lefèvre estende-se à edição e estudo de algumas obras de Platão, para passar depois ao estudo e publicação da Escritura e dos santos padres. Iniciado tardiamente no hebraico, publicou uma edição comentada dos Salmos e das Cartas de São *Paulo. Em 1530, Lefèvre concluiu sua tradução completa da Bíblia, o que em seu tempo representava um verdadeiro desafio. A esta precedera (1524) sua tradução do Novo Testamento, com aprovação real e dedicatória a Leão X.
— Nesse humanista esconde-se um místico de vida irrepreensível. Além de editar as Contemplações de Lúlio, publicou o tratado De Trinitate de Ricardo de São Vítor, As bodas espirituais de *Ruysbroeck e outros livros de piedade e de liturgia. Lefèvre buscou constantemente, tanto na Escritura quanto nos escritos espirituais, o sentido de caráter místico. Bem longe de *Lutero, parece admitir, senão uma deificação imediata à maneira de *Eckhart, pelo menos um acesso possível, já nesta vida, à plenitude do Corpo Místico.
— Como em todos os humanistas cristãos, particularmente em *Erasmo, em Lefèvre aparece o aspecto de reformador da Igreja. Quer uma Igreja reformada in capite et in membris. “Mas Lefèvre não critica nem as peregrinações nem o culto às relíquias; das indulgências não rechaça mais do que seu abuso simoníaco, e reconhece o valor das práticas ascéticas que reprimem as rebeliões da carne. Se as obras são a seus olhos, antes de tudo, “sinais de penitência”, admite com São Tiago que “vivificam” a fé e que quem delas se abstém pode “perder a graça da justificação”. Certamente, os monges não são os únicos perfeitos, porque existem “diversos estados de religião”, mas Lefèvre está muito longe de condenar o esta
do monástico. Se destaca em particular o memorial da Ceia, não põe em dúvida nem a presença real do Corpo e do Sangue sobre o altar, nem o caráter sacrificial da Missa. Menciona discretamente o caráter recente do celibato eclesiástico e os escândalos demasiado numerosos que acarreta, assim como a inconveniência de ofícios celebrados numa língua cada vez mais desconhecida pelos fiéis. É preciso assinalar, no entanto, as linhas quase apocalípticas em que recorda, depois da “primeira besta” — isto é, Maomé, sempre ameaçador —, a proximidade da “segunda besta”, mais temida ainda para a unidade cristã: “a defecção da monarquia romana” (Historia de la filosofía. Século XXI, 5, 174).
— Lefèvre termina sua vida longa um tanto saturado pelos acontecimentos de um movimento reformador que, de acordo com sua intenção, não deveria indispor a fé, a única que salva, contra a filosofia, e menos ainda contra a contemplação mística na qual ambas culminam.
BIBLIOGRAFIA: R. G. Villoslada, La Universidad de París durante los estudios de Francisco de Vitoria (15071522). Roma 1938.
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